sexta-feira, 25 de junho de 2010

O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.


Vinicius de Moraes



Teatro Dos Vampiros

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
Nesses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
A primeira vez
Sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos

Vamos sair
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas
Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
Esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar

Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir

Vamos sair
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos estão
Procurando emprego
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas

Vamos lá tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer desta noite
Ter um lugar legal pra ir
Já entregamos o alvo e a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém.

Renato Russo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

"A Ordem das Árvores"

Gosto de pipoca
Jujubas envolvidas com açúcar ácido
Eu curto o som da Tulipa Ruiz
Fico olhando pro teto pelo menos um minuto antes de levantar da cama
Peço a benção da minha mãe todos os dias
Cafuné é uma coisa que me faz muito bem
As coisas que menos gosto/interessam me lembram vc.
Mas não estou nem aí.
Não me importo.
É só pra testar a minha cura mesmo.

domingo, 6 de junho de 2010

Não Foi Em Vão

Não resisti e vou postar pela segunda vez hoje. Trata-se de uma música composta por Thalma de Freitas chamada "Não Foi Em vão". Nossa! A letra é linda e eu não posso deixar de me apropriar dela nesse momento da minha vida. É extamente o que estou sentindo...

Estou muito bem, não tem mais nenhuma importância.


Agora posso ir e não olhar pra trás
Passado tudo aquilo que se desfaz
Foi bom te ter mais uma vez, saber te perdoar
E dar por fim da mágoa de um mal amar

Hoje quero crer que não foi mesmo em vão
Escolho solitude à solidão
Foi bom te ter mais uma vez, saber te abandonar
E dar por fim da mágoa desse mal amar

Quem feriu meu coração fui eu, mais ninguém
Quem feriu meu coração foi você também

Thalma de Freitas

Tranquila

Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Não tenho medo do mundo
Não vou me preocupar
Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Não tenho medo da morte
Não vou me preocupar
Que passe por mim a doença
Que passe por mim a pobreza
Que passe por mim a maldade, a mentira e a falta de crença
Que passe por mim olho grande
Que passe por mim a má sorte
Que passe por mim a inveja, a discórdia e a ignorância
Tranqüila
Levo a vida tranqüila
Que me passe
A doença que me passe
A pobreza que me passe
A maldade que me passe
Olho grande que me passe
A má sorte que me passe
A inveja que me passe
A tristeza da guerra
Tranqüila
Levo a vida tranqüila

Thalma de Freitas

terça-feira, 1 de junho de 2010

Fidelidade



Alcançar o verdadeiro e único amor é a aspiração mais nobre do homem; no entanto, o egoísmo e o prazer têm-se convertido num dos maiores gigantes que impedem hoje uma relação sã, estável e de benefício para as pessoas.

Ter consciência e robustecer o valor da fidelidade, é uma necessidade que nos apressa em benefício de nós mesmos, a família e a sociedade inteira. A fidelidade é o íntimo compromisso que assumimos de cultivar, proteger e enriquecer a relação com outra pessoa e com ela mesma, por respeito à sua dignidade e integridade, garantindo uma relação estável em um ambiente seguro e confiável, que favorece ao desenvolvimento integral e harmônico das pessoas.

Por mais estranho que possa parecer, a fidelidade é anterior à própria relação; devemos conhecer e descobrir realmente o que buscamos e o que estamos dispostos a dar em uma relação. A retitude de intenção nos ajudará a superar o egoísmo e fazer, por um lado, os interesses pouco corretos. Assim, uma relação está destinada ao fracasso por desvirtuar o propósito da mesma: isto sucede com quem busca um bom rapaz ou uma jovem charmosa, somente para satisfazer a própria vaidade ou prazer; pior ainda se pretende-se, através dessa relação, alcançar uma melhor posição social e um interesse econômico. Pouco futuro terá esse casal quando alguma de suas partes não compreender que deve haver disposição para compartilhar, compreender e colaborar ao aperfeiçoamento pessoal do outro.

Podemos afirmar que o egoísmo é o maior perigo para qualquer relação. Ainda que nem sempre apareça "à primeira vista", podemos observar que algumas pessoas deixam-se levar por tudo que é novidade: roupas, carros, aparatos...; com o conseqüente cumprimento de seus caprichos, buscando o prazer na comida, bebida, no sexo e na diversão. Essas pessoas estão em constante perigo em faltar com a fidelidade a qualquer momento, porque sua vida está orientada à novidade, à mudança e à busca de novas experiências e satisfações. Ser fiel custa trabalho, porque não existe a disposição a dar e a dar-se. Como esperar que uma relação não seja aborrecida em pouco tempo? Como pretender que se evitem novas experiências?... Vencer o egoísmo, o prazer e a comodidade com uma conduta sombria, garantirá nosso crescimento pessoal, e em conseqüência, qualquer relação.

A fidelidade não é exclusiva do matrimônio, é indispensável no noivado, porque não há outra forma de aprender a cultivar uma relação e fazer com que ela prospere. Não está mal que os jovens conheçam as diferentes pessoas antes de decidirem com quem seguir adiante seu projeto de vida, mas devem fazê-lo bem, sem enganos, procurando conhecer realmente a pessoa, dando o melhor de si mesmo, tendo reta intenção em seus interesses: e isso é nobre, correto, e sobretudo, leal. Também devemos ser cautelosos em nossos afetos e tratar com delicadeza e respeito as pessoas do sexo oposto, principalmente se já temos outra relação ou compromisso com alguma pessoa em particular. Uma coisa é a cortesia e o trato amável, outra - muito diferente dos agrados, as excessivas atenções e a comunicação de sentimentos e inquietude pessoais; esses intercâmbios fazem crescer um afeto que irá mais além da amizade e da convivência profissional, porque a pessoa é envolvida em nossa vida, em nossa intimidade e sempre terá a mesma conseqüência: faltar com a fidelidade. Por isso é necessário ser muito cuidadoso com nosso trato no trabalho, na escola, com os familiares e em todos os lugares que freqüentamos.

A fidelidade não é atadura, pelo contrário, é a livre expressão de nossas aspirações, nos cumula de alegria e ilumina cotidianamente as pessoas. Uma boa relação possui uma série de características que a fazem especial e favorecem a vivência da fidelidade, mas devem ser bem cuidadas, para que não sejam o produto da emoção inicial: - Há o interesse de estar ao lado da pessoa, quando se procuram detalher de carinho e momentos agradáveis. - Constantemente faz-se um esforço para encontrar e afinar as asperezas, procurando que as discussões sejam mínimas para chegar à paz e à concórdia o mais rápido possível. - Se dá pouca importância às falhas e erros do parceiro, fazendo-se o possível para ajudar a superar, com compreensão e carinho. - Somos cada vez mais felizes na medida em que se "avança" no conhecimento da pessoa e na forma em que ela corresponde a nossa ajuda. - Compartilhamos alegrias, tristezas, triunfos, fracassos, planos... tudo!!! - Pelo respeito que o casal merece, um ao outro, cuidamos do tratamento com as pessoas do sexo oposto, com naturalidade, cortesia e delicadeza; e que, afinal de contas, esse será o respeito que damos para nós mesmos.

A fidelidade não é somente a emoção e o gosto de estar com uma pessoa, é a luta por deixarmos de pensar unicamente em nosso benefício; é encontrar nos defeitos e qualidades de ambos a oportunidade de ser melhores e assim levar uma vida feliz. Sem lugar às dúvidas, quando somos felizes podemos dizer que nossa pessoa se aperfeiçoa pela união das vontades orientadas a um fim comum: à felicidade do outro. Quando este interesse é autêntico, a fidelidade é uma conseqüência lógica, gratificaste e enriquecedora. Viver a fidelidade se traduz na alegria de compartilhar com alguém a própria vida, procurando a felicidade e a melhora pessoal de nosso companheiro, gerando estabilidade e confiança perduráveis, tendo como resultado o amor verdadeiro.

Bruno Valadão